quinta-feira, dezembro 27, 2007

SER CAVALEIRO


Ser Cavaleiro,
É ser, em tudo e entre todos, o primeiro;
Ser grande e generoso – por seu próprio valor,
Ser o melhor.

É dar-se todo em vida
Religiosamente,
Em inteira bondade
E leal dignidade,
Estremecida E completamente;
Mas dar-se para sempre, de todo, numa só vez,
Com honra e altivez.

Sem sombras de arrogância
Nem ares de petulância;
Naturalmente.
- Até com humildade.

É viver esta vida na verdade,
Mão a mão
De todo o coração;
Ao perigo olhar de vante
- Nem perigo para ele há.

Sofrer sua dor,
A dor da sua alma,
Mesmo que injusta, horrível, atroz, dilacerante,
Com resignação e calma,
Em paz e com amor,
Tranquilamente.
- E devotamente.

E sempre sem temer,
Com pronta decisão,
Todo o risco correr.
- Mas que risco haverá,
Em vida tal,
Tão simples de viver?

Lutar, quebrar, matar,
Galopar, avançar,
Sempre e sempre prá frente,
Deliberadamente,
No sublime ideal
Da sua confissão.

Porventura morrer.
- Mas que pouca importância
Isso de morrer tem,
Desde que seja bem,
Com honra e elegância?

Perder assim a vida,
Em nobre galopar,
Na altura devida,
Dá-la,
Sem hesitar,
Honradamente
E honrosamente,
É ganhá-la.

A essência – é morrer bem,
Sem vaidade nem desdém,
Cair altivo de amor,
Sem tremer e sem temor;
Morrer assim, valor tem;
Isso sim, é que é morrer
Isso sim, que tem valor.

Ser Cavaleiro…
Ungido pelo mui nobre oitavo sacramento,
Guardando-o para sempre, da alma no mais fundo,
Como o solene e imperativo mandamento,
Sacro, supremo, altíssimo, profundo;

Tê-lo sempre presente,
Ficar com ele deveras vinculado,
Imaculado
Eternamente;
Mesmo pr’além da vida ter passado,
E da morte chegar

E da morte passar.
- Que a morte também passa;
O que não é a graça,
Em vida recebida,
Do juramento dado.

Ser Cavaleiro…
Ser tudo o que no mundo de bom se possa ser;
Nada ter, na alma ou no sentir,
Do que de mau, de baixo, de mentir,
De vil ou de mesquinho possa haver.
Ser pobre;
Mas ser nobre.

E apóstolo, talvez o derradeiro,
O último na esperança desta fé;
Sempre de pé.
De pé,
Nas asas da vitória
E na desventura do perder;

De pé,
Nas sendas da glória,
Nesta linda aventura do viver
E do morrer;

De pé,
Na doce santidade,
Desta simplicidade
De bem-querer;

De pé, sempre de pé,
Na íntrega fidelidade
A esta imensa fé,
Que é certeza,
Na sua singeleza.

E é isto que
Perante tudo o que existe
E há-de vir a haver,
Em tudo o que ficar
E em tudo o que passar;

É nisto que consiste,
No ser e no não-ser
Deste sonho altaneiro,
A virtude maior,
A virtude sem par,
A honra deste amor,

SER CAVALEIRO…

Serpa Soares