quinta-feira, abril 10, 2008

Ascenção dos Cavaleiros



No tempo de Carlos Magno, os guerreiros montados tornaram-se a unidade militar de elite dos francos e essa inovação espalhou-se pela Europa. Lutar a cavalo era mais glorioso pois o homem montado cavalgava em direcção à batalha, movia-se rapidamente e atropelava os inimigos de classe baixa a pé.
Quando a cavalaria enfrentava outra cavalaria, o ataque em velocidade e o contacto resultante era violento. Lutar montado era prestigioso por causa do alto custo dos cavalos, armas e armaduras. Somente indivíduos abastados, ou os serventes dos ricos, podiam lutar a cavalo.
Reis do fim da Idade Média tinham pouco dinheiro para pagar por grandes contingentes de cavalaria, a qual era cara. Guerreiros eram feitos vassalos e recebiam feudos. Esperava-se que eles utilizassem os lucros com a terra para comprar cavalos e equipamentos. Em muitos casos, vassalos mantinham grupos de soldados profissionais.
Num tempo no qual a autoridade central era fraca e as comunicações pobres, o vassalo, auxiliado por seus serventes, era responsável pela lei e pela ordem no feudo. Em retorno pelo feudo, o vassalo concordava em prover serviço militar para seu lorde. Dessa maneira, grandes lordes e reis eram capazes de levantar exércitos quando desejassem. A elite desses exércitos eram os vassalos a cavalo.
No decorrer da Idade Média, os membros da elite dos guerreiros montados de Europa Ocidental tornaram-se conhecidos como cavaleiros. Desenvolveu-se um código de comportamento, as regras de cavalaria, o qual detalhava como eles deveriam se conduzir. Eles eram obcecados pela honra, tanto na paz quanto na guerra, embora principalmente quando se relacionavam com seus iguais, não com os plebeus e camponeses, os quais constituíam a maior parte da população.
Os cavaleiros se tornaram a classe dominante, controlando a terra da qual provinha toda a riqueza. Os aristocratas eram nobres originalmente por causa de seu status e prestígio como guerreiros supremos num mundo violento. Posteriormente, seu status e prestígio passaram a se basear na hereditariedade e a importância em ser um guerreiro declinava.

quarta-feira, abril 09, 2008

A Cavalaria Medieval


A Cavalaria na Idade Média era constituída pelos cavaleiros nobres (miles), homens que os senhores das terras eram obrigados a apresentar (lanças), os escudeiros, cavaleiros das ordens religiosas e dos concelhos (também conhecidos por «cavaleiros-vilãos»).

Cada lança, constituía uma fila formada pelo seu chefe, designado por homem de armas, pelo seu escudeiro, pelo pagem, dois arqueiros a cavalo ou besteiros e por um espadachim. Cinco ou seis filas formavam uma bandeira, subordinada a um chefe. E um certo número de bandeiras constituía uma companhia de homens de armas.

Os monges guerreiros das Ordens militares do Templo, dos Hospitalários, de Calatrava (mais tarde Ordem de Avis) e de Santiago de Espada desempenharam um papel muito importante nas lutas das Cruzadas.

O grão-mestre de cada Ordem exercia o comando supremo destas milícias permanentes em que serviam de oficiais, os cavaleiros professos e de soldados, os servos e os lavradores das terras destas ordens monástico-militares.

Também lhes competia o tratamento de doentes e de feridos e, mesmo em tempo de paz, praticavam regularmente exercícios de adestramento militar. Competia-lhes defender as regiões fronteiriças, onde se instalavam castelos que constituíam a guarda avançada dos cristãos frente às terras dos muçulmanos.

Contrariamente aos outros militares, os monges guerreiros não recebiam remuneração, tendo de viver dos rendimentos próprios das suas ordens.

Nesta composição da cavalaria das hostes, ocupavam, no último lugar, os peões, isto é, os que possuíam propriedades de menor valia. Obrigados ao serviço militar, os cavaleiros-vilãos não recebiam remuneração por essa actividade, mas as suas terras ficavam isentas do imposto de jugada. Tais cavaleiros eram equiparados aos nobres infanções e ainda eram dispensados do pagamento de direitos de portagem. Também nas anúduvas não tinham de executar trabalhos braçais. Dirigiam, sim, o trabalho dos peões. Estes últimos pagavam a jugada.

terça-feira, março 18, 2008

CULTO DO DEVER



Mousinho há pouco assentara praça.
Fizera-o por instinto e vocação
Seguindo o exemplo dos da sua raça:
- Tudo por Deus, pelo rei e pela Nação.

Um dia, a avó velhinha – enfraquecida
Menos pela doença do que pela saudade
Doutro soldado, ao qual ligara a vida
Desde os tempos da clara mocidade -,

Mandou-o chamar e disse-lhe: - “Joaquim:
Guardo do teu avô, como sagrada
E suprema relíquia para mim,
A Condecoração da Torre e Espada.

Ganhou-a pela Pátria, altiva e bela,
P’la qual tombou no campo do dever
Honrando o nome, pois morrer por Ela
É a honra maior que pode haver!

Essa relíquia, sempre vida fora
Me acompanhou, tal como a Dor e a Prece.
Hoje, porém, sinto chegada a hora
De lhe dar o destino que merece.

Por isso te chamei; para ver perfeito
O velho e lindo sonho que vivi...
És um soldado. Quero-a ver no teu peito.
Podes levá-la, filho. É para ti.

“Mas... minha avó – articulou o moço
Olhando a nobre insígnia do valor
Da lealdade e mérito – eu não posso
Usá-la... bem o sabe... Com amor

Mas dando à voz um excepcional poder
De sugestão, ela vibrou, baixinho:
- “Pois faz por ganhá-la. É o teu dever
Por que, além de soldado, és um Mousinho”.

Esta história tão simples na aparência,
Que enche as almas de luz e que faz bem,
Quem poderá dizer qual a influência
Que operou no espírito do herói? Ninguém.

Mas Deus sabe, no avanço de Coolela
Na jornada feliz de Manjacaze,
Quantas vezes Mousinho pensou nela;
Que poder teve nessa estranha fase

Da sua vida de guerreiro audaz,
A cujo engenho valoroso e sério
Devemos o prestígio, a glória, a paz
Em todo o território do Império!

Quem há que não conheça em Portugal
O que foi a prisão de Gungunhana,
Levada a efeito no seu próprio Kraal
Com cinquenta homens, causa sobre-humana?!

Chaimite, povoação de simples planta
Erma e silente, como sem ninguém,
Era uma espécie de cidade santa
Dos vátuas, entre morros de muchem.

O Gungunhana ali se recolhera
Com mais de três mil negros insubmissos,
Seguro de vencer quem o vencera
Depois de praticar certos feitiços...

E foi ali nesse lance de temor
Que ainda hoje assombra os mais ousados,
Que o valente Mousinho o foi prender
À frente dos seus homens, mal armados.

Depois deste alto feito de Chaimite
Podia usar, enfim, a Torre e Espada,
- Prémio dado aos heróis, quase limite
Da glória militar tão desejada!

Podia-a usá-la, firme de que tinha
Honrado o nome ilustre, e satisfeito
A última vontade da velhinha
Que lhe dissera: - “Quero-a no teu peito!”

Ela, do céu, devia ter seguido
O rasto dos seus passos pelos caminhos
Da terra e, um sorriso agradecido
Por certo que em seus lábios mirradinhos

Pairou, nesse momento de ventura!
E Mousinho, o soldado de Coolela
E de Chaimite, exemplo de bravura
- Com certeza vibrou pensando nela!

Há sempre um encanto raro, excepcional
Oculto sob as páginas da História
Do nosso bem-amado Portugal!

Esse mistério é que conduz à glória,
Vezes sem conto, o português fecundo
Em rasgos de ternura e de nobreza.

Bendito seja Deus que fez o mundo
E pôs, no mundo, a gente portuguesa!

Silva Tavares
in A.G. do Ultramar de Fevereiro de 1936, “Dia de Mousinho”